terça-feira, 26 de março de 2013


Páscoa do Senhor
Rev. Edson Cortasio Sardinha

No dia Ressurreição do Senhor os cristãos Russos se cumprimentam dizendo: “Jesus ressuscitou! Ressuscitou realmente!”. 
Neste texto veremos a importância da Páscoa para os cristãos do IV e V séculos d.C. A tradição da comemoração da Páscoa está profundamente associada a Agostinho de Hipona, um dos maiores teólogos da igreja. Leremos também as passagens bíblicas da Páscoa segundo o Lecionário comum e seremos desafiados a celebrar com grande festa este período pascal até o dia de Pentecostes e durante todos os domingos do ano. A Páscoa é a grande festa da cristandade.

I.                   A Páscoa do Senhor na época de Agostinho de Hipona.
            Agostinho, no dia 24 de abril de 387, foi batizado em Milão pelo bispo Ambrósio numa Vigília da noite de Páscoa. Sua consciência do que a Páscoa significa para os cristãos, estimulou grande parte do seu trabalho pastoral e teológico.
Durante a quaresma instruía a fé aos que se preparam para receber o batismo. Nos oito dias seguintes à festa pregava todos os dias para revelar aos membros da Igreja os tesouros e tarefas de sua condição cristã e estimulá-los a viver conforme ela (daí surgiu a Oitava da Páscoa: Os oito dias seguintes ao domingo da Páscoa).
Foram conservados dezesseis sermões agostinianos, pregados na vigília Pascoal. Pronunciados no domingo de Páscoa, conhecemos doze. A estes se somam 59 sermões apresentados durante a primeira semana de Páscoa. Além disso, alguns parágrafos da carta 55 explicam o sentido da Páscoa cristã. Por outra parte, na introdução as suas dez homilias sobre a primeira carta de São João, Agostinho confessa a seus paroquianos que “a alegria dos dias da semana pascal” o induziu a pregar sobre ela, pois esse escrito louva, sobretudo, a caridade, razão e fonte de alegria. Durante a primeira semana da Páscoa de 407 d.C, entre 14 e 21 de abril, pronunciou oito homilias.
Agostinho chama à vigília do sábado santo a “mãe de todas as vigílias”. No sermão 223A, pregado em uma delas, recorda a vocação de Moisés e a revelação do nome de Deus. Neste aspecto e ao falar que Deus criou tudo o quanto existe, a fé cristã é herdeira do credo judeu.  
O Verbo, mediante a qual todo existe, ou seja, o Filho é anterior a tudo. O relato da criação dá a Agostinho pé para falar da morte e da vida, da escuridão e da luz. Suas palavras destacam a morte como consequência da desobediência do homem a Deus.
A encarnação e paixão de seu Filho são a fonte de uma vida nova, não submetida irremediavelmente à morte. A Santa Ceia nutre na Igreja essa vida. Porque esta está sempre ameaçada, Agostinho, nos sermões da vigília pascal, exorta à vigilância. Porque o homem dispõe de certa margem de liberdade, é responsável pelos seus atos. Se estes não são os que Deus espera dele, o homem não deve perder a esperança, pois conta com a intercessão de Cristo diante o Pai. Com esta certeza, o cristão aguarda o juízo final.
Agostinho sugere que vivamos a Páscoa como caminhantes. “Tensos para a meta, antecipada na ressurreição de Jesus”. A certeza da vitória nos anima a não perder contato com a realidade, tão exigente e nem sempre grata.
Para Agostinho a espiritualidade da Páscoa é a caminhada. Assim se deduz de sua carta 55, 26. “Caminhamos”, escreve ele. E descreve os dois pés com que os cristãos avançam: “a fadiga” cotidiana, comum a todos os homens, e “a esperança” garantida pela promessa do Senhor; a experiência do envelhecimento e demolição humanos e a fé em uma vida nova. “Caminhamos, pois, na experiência da fatiga, mas na esperança de descanso; na carne da velhice, mas na fé da novidade”.
A chave para se viver a Páscoa como caminhantes é a “Passagem”. Agostinho o expõe assim: “Passagem de Cristo e nosso; daqui para o Pai; deste mundo para reino dos céus, da vida mortal à vida definitiva, da vida terrena à vida celestial, da vida que se deteriora à que não se deteriora, da familiaridade com as tribulações à segurança perpétua” (Comentário do salmo 68, 1, 2, pronunciado entre fins de 414 e inícios de 415 em Tagaste, aldeia natal de Agostinho).
Em seu sermão 229 D 1 e 2 diz: “Nossa celebração cotidiana da Páscoa é a recordação constante do que Jesus fez por nós”. O adjetivo “nossa” permite afirmar que Agostinho procurou levar a cabo este programa de vida pascal.
Na Carta 55, 2, Agostinho diz que “Na Páscoa, nome hebreu que significa ‘passagem’, não só recordamos a morte e ressurreição do Senhor, mas também nós passamos da morte à vida. A Igreja, corpo de Cristo, espera participar definitivamente na vitória sobre a morte, triunfo já manifestado na ressurreição corporal de nosso Senhor, Jesus Cristo”.

II.                As Leituras Bíblicas do Domingo de Páscoa – Ano C
Primeira Leitura é Atos 10.34-43. Pedro, em sua pregação diz que Deus enviou Jesus para anunciar o evangelho da Paz. Ele se tornou Senhor de todos. Jesus inicia o seu ministério no Batismo, faz sinais e maravilhas, mas é morto num madeiro. Deus o ressuscitou no terceiro dia. Os apóstolos foram as testemunhas da ressurreição do Senhor. Deus o constituiu juiz de vivos e de mortos. Por isso todo aquele que nele crê recebe a remissão dos pecados. É um convite para crer na salvação mediante a ressurreição do Senhor.   

O Cântico Responsorial é o Sl 118 – O Salmista diz que a misericórdia do Senhor dura para sempre. Todos devem declarar: “A sua misericórdia dura para sempre”. Seja na tribulação, na dor e na morte, a misericórdia dura para sempre. Por isso é melhor buscar refúgio no Senhor do que confiar em homens. O v. 17 é aplicado a ressurreição do Senhor: “Não morrerei; antes, viverei e contarei as obras do SENHOR”. Jesus ressuscitou como nosso salvador porque a Sua misericórdia dura para sempre.

A Segunda Leitura é Cl 3.1-4. Paulo diz que com Cristo somos ressuscitados para uma nova vida. Por isso precisamos pensar nas coisas do alto, não nas que são aqui da terra. Buscar a coisa do Senhor ressuscitado. Viver a ressurreição do Senhor.
Outra sugestão para a Segunda Leitura é I Co 5.6-8. Paulo diz que Cristo morreu e ressuscitou como o nosso cordeiro Pascal.  “Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi imolado”. Assim celebramos a Páscoa do Senhor sem fermento, ou seja, com vida santa e caminhando na justiça do Senhor Ressuscitado.

O Evangelho Proclamação é Jo 20.1-9. Maria Madalena vai ao Sepulcro e o encontra vazio. Crê que roubaram o corpo do Senhor. Volta e conta a Pedro que vai ao sepulcro com João. Vão ao sepulcro, encontram o lençol e os panos mortuários e creem na ressurreição. Até aquele momento não haviam compreendido as escrituras sobre a ressurreição do Senhor. Mas o Senhor ressuscitou para ser o Senhor dos vivos e dos mortos. O Evangelho nos ensina a crer e esperar nas promessas do Senhor.

III.             Orações do Domingo de Páscoa.
O livro de Oração Comum da Igreja Protestante da Inglaterra apresenta as seguintes coletas (Orações) para o dia de Páscoa:

“Ó Deus, que para a nossa redenção entregaste o teu unigênito Filho à morte de cruz, e pela tua gloriosa ressurreição nos libertaste do poder de nosso inimigo; concede que morramos diariamente para o pecado, a fim de que vivamos sempre com Ele na alegria de sua ressurreição; mediante Jesus Cristo, teu Filho, nosso Senhor, que vive e reina contigo e com o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém”.

“Ó Pai Celestial, que fizeste com que a aurora santa brilhasse com a glória da ressurreição do Senhor; aviva em tua Igreja o Espírito de adoção, que nos é dado no Batismo, a fim de que nós, sendo renovados tanto no corpo como na mente, te adoremos com sinceridade e verdade; mediante Jesus Cristo, nosso Senhor, que vive e reina contigo e com o Espírito Santo, um só Deus, agora e sempre. Amém”.
     
Conclusão:
A partir do domingo de Páscoa iniciamos uma caminhada de celebrações. Serão seis semanas comemorando os últimos dias de Jesus ressuscitado com os apóstolos antes do derramamento do Espírito Santo. No final das Semanas pascais iremos celebrar o Dia de Pentecostes. Jesus envia o Espírito Santo que caminha conosco e nos fortalece para a Missão. Todo dia é Páscoa. Todo dia é ressurreição. Todo dia é uma celebração do Jesus que está vivo ao nosso lado nos ajudando a viver um encontro com Deus cotidiano. Louvado seja o Senhor. Jesus ressuscitou! Ressuscitou realmente!

Fonte pesquisada sobre A Páscoa de Agostinho de Hipona: Entrevista com José Anoz Gutiérrez ao site www.pnslourdes.com.br, baseada nas obras de Agostinho.